Classe.
O
sujeito era muito esnobe, mas em dias de politicamente correto, estava pegando
mal ter aquele ar superior. Além disso, a mídia, as pessoas e mesmo o mundo dos
negócios eram taxativos: o charme e o dinheiro hoje estão na Classe C. Começou
a se esforçar para parecer que tinha vindo do povo. Fez um cartão C&A pra
comprar roupas novas. Trocou os restaurantes caros pelos botecos. Dispensou o motorista e ia de táxi. Saltava um quarteirão antes pra
chegar a pé e não parecer rico. Mas como se enturmar? Nas conversas o assunto
era futebol, e não pólo. Novela, e não política. Compra de eletrodomésticos, e
não de lanchas. Ficava ali calado, tomando cerveja e ocasionalmente, uma pinga,
que cuspia disfarçadamente, lamentando não ser seu uísque 21 anos. Tentava
entrar no papo, mas teve medo de soar falso, empolado – e havia lido que a
Classe C detesta falsidade. Teve então a ideia de googlar ditos populares e
decorá-los. Não conhecia muitos - afinal, eram ditos populares, não de elite.
Mas sempre haveria uma situação onde aplicar um bom ditado. Pena que a memória
dele já não andasse essas coisas.
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E o jogo de ontem, hein? Que zebra!
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Água mole em pedra dura, a galinha enche o papo.
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E você viu o barraco na novela?
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Cão que ladra, no seu galho.
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Comprei uma TV nova em 24 vezes no
crediário.
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Em terra de cego, caça com gato.
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Bora um churrasquinho na laje esse fim de semana?
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Em boca fechada, espeto de pau.
O
pessoal achou o sujeito estranhíssimo. A fama de espalha-bolinho grudou. Teve
que voltar para a turma do golfe. Ô povinho, essa Classe C.