O
rádio antigo estava escondido numa das barraquinhas da feira de antiguidades.
Meio malcuidado, empoeirado, atrás de uns castiçais e uns pôsteres de
publicidade da década de 40. O homem pediu ao vendedor para tirar a poeira e
ver o produto. Apesar da ação do tempo, estava perfeito. Perguntou se
funcionava, o senhor disse que sim, mas não havia eletricidade ali na rua.
Confiou e levou. Encontrou um espaço perfeito na estante e ligou o bicho na
tomada. Esperou um minuto até as válvulas esquentarem e começou a ouvir
estática. Foi girando o botão até chegar a alguma estação. O som era abafado,
mas ouvia-se uma música orquestrada, que em segundos terminou. Falou uma voz
impostada: “Ouvimos a forrrmidável orquestra Glenn Miller. E agora, uma palavra
dos nossos patrocinadores.” Começou um jingle estranho, com um coro feminino,
cantando “a elegancia masculina, ô ô ô ô, Aurora, brilha mais com brilhantina,
ô ô ô ô, Glostora”. Não sabia o que era brilhantina, muito menos Glostora. O
locutor voltou dizendo “interrrrompemos nossa programação para notícias
urgentes do front da guerra. Os aliados, junto com a Força Expedicionária
Brasileira, tomaram Monte Castello, na Itália”. Ligou para o celular do avô, que era vivo e morava perto. Pediu que ele viesse o mais rápido
possível ouvir aquilo. Enquanto esperava, ansioso, a transmissão falhava. Meia
hora depois, o avô tocou a campainha. O neto abriu rápido, mas o rádio já era
só ruídos. Tentaram sintonizar a estação novamente, sem sucesso. Inconformado,
contou ao avô: “O senhor não acredita, era uma estação antiga, tava tocando
Orlando Silva!” O avô pôs a mão no ombro do neto. “Não tem problema, filho. Hoje
eu prefiro a Ivete Sangalo.”
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